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 Ácaros e Mucosa Nasal

Por: Raul Emrich Melo

Ácaros são seres minúsculos, muito citados em consultas médicas, mas ainda pouco compreendidos pelos pacientes alérgicos. Por serem invisíveis, frequentemente não são levados a sério quando o assunto é higiene ambiental. Outras vezes são considerados invencíveis, o que causa um certo desânimo, como se eles estivessem em todo lugar, todo o tempo. Também são confundidos com a poeira, como se fossem uma coisa só. De fato, em um país quente e úmido (como nosso Brasil, em boa parte de seu território), a população acarina domiciliar imensa.

Inicialmente, lembremos que a poeira é uma mistura de muitas partículas diferentes. Materiais mais pesados da poluição se depositam junto com pedaços de insetos, descamação de animais domésticos e da pele do próprio homem. Locais lisos são facilmente limpos com um pano úmido; consequentemente têm menos chance de ter um acúmulo considerável de poeira, mas reentrâncias no piso, estante com livros e, principalmente, tecidos tendem a ser um reservatório que permite a alimentação constante desses parentes microscópicos das aranhas (o ácaro é um aracnídeo).

Sendo um gigante do mundo invisível aos humanos, seu tamanho está no limite do que pode ser observado a olho nu. Suas fezes se levantam e permanecem no ar o tempo suficiente para que possamos trazê-las para nosso nariz em uma inspiração habitual. Para os indivíduos não alérgicos, isso não causa nenhum problema. Para aqueles que nasceram com a genética da alergia, no entanto, é grande a chance de uma irritação da mucosa nasal acontecer de forma prolongada, tornando o nariz ainda mais sensível, sujeito a sintomas após estímulos corriqueiros, como a mudança de temperatura ao entrarmos em uma sala com ar refrigerado.

Estudos recentes demonstraram que algumas proteínas, presentes nas bolotas fecais dos ácaros, têm a capacidade de digerir a junção entre as células da mucosa (efeito de enzima). Isto facilita a penetração de mais partículas, profundamente, ampliando a resposta alérgica (ou seja, a resposta anômala de autoagressão). Ao contrário do que se pensava antigamente, a mucosa não precisa estar lesada (ou “machucada”) para que o processo de reconhecimento de partículas, como a dos ácaros, comece a acontecer.

Última pergunta: por que os indivíduos alérgicos, como regra, reagem de forma tão intensa aos ácaros e não a outros estímulos do meio ambiente, como penas de pássaros?

Resposta: não sabemos. Este é o mistério do reconhecimento de proteínas pelo nosso corpo. Algumas, como que por destino, nos trarão problemas. Felizmente, são poucas, mas bastam para tornar um inferno a vida de muitos alérgicos.

Dr. Raul Emrich Melo

 

 

 
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